Casa Cultural Bantu
Maza Ua Sambe

Dirigente Mam'etu Rìa Nkisi Sambelunji, iniciada ao Nkisi Ndandalunda. Casa de Cultura, dedicada a preservação e divulgação do legado Bantu nos candomblés da diáspora brasileira.

CONTATO

Mam’etu Sambelunji (nome Africano Brasileiro), de nome colonial Priscila Bianca Furlan, é formada em Gestão da Qualidade e Assuntos Regulatórios e Doutora Honoris Causa.

Mam’etu Sambelunji também é a Mam’etu Rìa Nkisi (zeladora) da Casa de Cultura Bantu Maza Ua Sambe (Casa das Águas Sagradas), que, além de ser uma comunidade tradicional de matriz Kongo-Angola, também é uma Casa de Cultura dedicada à preservação e divulgação do legado Bantu nos candomblés da diáspora brasileira

Mam’etu Sambelunji assume sua função como dirigente da Nzo Maza Ua Sambe em 2020, ano em que abriu sua casa. Tendo sido iniciada ainda na infância ao Nkisi Ndandalunda e percorrido grande parte da sua vida na tradição Kongo-Angola.

Com o nascedouro da Nzo, em 2020, surgem o grupo cultural Maza Ua Sambe e o Projeto Vivência Ancestral, que, juntos, têm o intuito de valorizar, preservar e divulgar saberes africanos Bantu na diáspora — evidenciados por meio da língua, da arte, da filosofia, da história, das comidas ancestrais e do uso das ervas, tanto na alimentação quanto em sua função litúrgica. Além disso, a Casa de Cultura se propõe a oferecer oficinas de costura ancestral criativa, promover rodas de conversa, cantigas, toques, entre outras atividades.

Devido ao trabalho realizado em sua comunidade e com o público em geral, em 2022, Mam’etu Sambelunji recebeu o título de Doutora Honoris Causa, concedido pela Faculdade Febraica do Brasil, em reconhecimento à sua contribuição para a sociedade por meio do resgate de saberes ancestrais, culturais, científicos e artísticos. O título reforça a importância do reconhecimento desses saberes para a manutenção de modos de vida tradicionais na sociedade ocidental.

:: Nossos projetos

Vivenciar e resgatar os saberes legados pelo povo Bantu no Brasil, preservados em comunidades tradicionais como os Candomblés de matriz Kongo-Angola

No dia 03/08/2024, aconteceu a Vivência de Jinsaba, que abordou os saberes tradicionais sobre as ervas sagradas. O encontro foi organizado pela Casa de Cultura Kongo Angola Nzo Maza Ua Sambe e Pensar Bantu

Como foi a Vivência presencial:
:: Programação:
Palestra:
B
reve contexto histórico da diáspora Bantu no Brasil;
Cosmologia centro-africana e a relação com a natureza;
Saberes ancestrais Bantu no Candomblé Kongo-Angola;
Uso litúrgico das Jinsaba na Nação Kongo-Angola;
A importância do Mutue na preparação das ervas.

:: Almoço: Comida de Terreiro

:: Vivência participativa:

Após o almoço, houve o aprendizado de cantigas e a manipulação das ervas com nossa Mam’etu Sambelunji.

Durante o encontro, conversamos sobre a cosmovisão Bantu, o Candomblé Kongo-Angola e a importância das trocas com os povos originários do Brasil. Foi um momento de intenso compartilhamento de ideias, aprendizado mútuo e acolhimento.

Além disso, pudemos proporcionar aos participantes a oportunidade de entrar em contato direto com as ervas — que fazem parte não apenas do cotidiano de uma Nzo, mas também estão presentes no dia a dia dos brasileiros.

Como disse Mam’etu Sambelunji, os saberes ancestrais não estão sendo resgatados, e sim relembrados. O cotidiano capitalista nos desvia e nos afasta da natureza e das folhas que Katendê nos oferece para a cura. No entanto, o conhecimento ancestral sempre esteve conosco. Basta ativarmos os nossos cinco sentidos, como ensina Tata Kiasanju, para reconhecermos o poder das folhas.

Agradecemos imensamente a presença de todas as pessoas que compareceram e
passaram o dia em nossa Nzo. Nos vemos em uma próxima edição!

Fotos: Waldineia Dutra dos Santos e Bruno Borges

Roda de conversa

Roda de conversa no curso de Kimbundu da Nupel

No dia 03 de outubro de 2024, a Mametu Sambelunji participou de uma roda de conversa no curso de Kimbundu da NUPEL — Núcleo Permanente de Extensão em Letras —, vinculado ao Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (ILUFBA), onde falou sobre o Candomblé Kongo-Angola e o culto aos Minkisi.

Levar a cultura dos Minkisi e do Candomblé Angola à academia é de extrema importância, uma vez que os saberes Bantu foram, por tanto tempo, excluídos do debate acadêmico e dos espaços onde predominam, majoritariamente, os saberes ocidentais.
Mais do que isso, falar de Minkisi em um curso de Kimbundu é manter vivo o elo entre língua, cultura, religião e tradição — elementos centrais que foram e são preservados justamente pelas comunidades de terreiro.

Viva as tradições Bantu no Brasil!
Viva o legado dos nossos ancestrais!

Nzambi wa Kwatesa pelo convite e pela oportunidade de diálogo entre as duas academias!

Kimbundu da Nupel
Educação Anti-Racista:

A educação sempre foi pauta de muitas lutas, envolvendo diversos movimentos sociais que procuram enfrentar as precariedades físicas e pedagógicas impostas pelo governo brasileiro. Por muito tempo, o acesso de pessoas periféricas, negras e indígenas à educação foi vetado, sendo os escravizados, em especial, excluídos. Apesar do aumento do acesso à educação formal, nossas crianças ainda enfrentam altos índices de abandono escolar. Além disso, é importante pensarmos no tipo de educação que recebem em sala de aula.

Somente depois de muito tempo de luta por parte dos movimentos negro e indígena, em 2003, a Lei 10.639 tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, e em 2008, a Lei 11.645 incluiu também a história e cultura dos povos indígenas. Apesar disso, sabemos que nem sempre a lei é cumprida e, quando cumprida, nossa história é contada a partir da perspectiva do colonizador.

Nossas culturas ainda são vistas negativamente, como sendo “da ignorância, do vício, da miséria e da animalidade” (ALENCAR apud FONSECA, 2000, p.36), como acreditava José Alencar. Muitas vezes, nas salas de aula, nossas memórias, religiões e lutas não são ensinadas com seriedade, sendo mencionadas sem a devida profundidade. Por isso, é tão importante mantermos nossa luta ativa e nossa presença no ambiente escolar, mostrando para nossas crianças o poder de sua ancestralidade. Que seus traços físicos, seus antepassados e seus embates sejam fontes de orgulho, e não de vergonha.

Se o Estado se recusa a perceber e disseminar o fato de sermos produtores de cultura e de saberes tradicionais preciosos, faremos isso com nossas próprias mãos. É a partir desse compromisso com uma educação antirracista e decolonial que nossa Mam’etu Sambelunji apresentou o Candomblé Angola para os estudantes da E.E. Jorge Julian, localizada em Carapicuíba, durante a semana da Consciência Negra. Os alunos que participaram foram impactados por sua fala e trouxeram suas experiências como membros de comunidades de terreiro, algo que nunca haviam mencionado na escola antes, por medo de represálias.

Assim, pedimos que nosso pai Nkosi continue a nos dar força e coragem para defender nossas memórias de todos os que procuram apagá-las! Que nossas crianças aprendam a enxergar o Ngunzu que carregam!

Educação anti-racista

   Fotos: Raul Lopes de Freitas

KYALU - Trono Ancestral

Dizem que só quem senta no trono é rei
Ou só um rei senta-se no trono
É um paradoxo
Nascemos rei ou nos tornamos parte de uma realeza?
Destino ou escolha?

Depende

Mas sentar no trono não é apenas reinar
Reinar é estar apto para cuidar
Zelar
Comandar
Aconselhar
E saber ser aconselhado também

Reinar sozinho é tirania
Reinar com seus pares é sabedoria

O rei é o soberano de uma comunidade
Mas o pilar é ela própria – a comunidade

Ninguém reina para si mesmo
Reina-se para o outro
Com o outro

E o outro é quem levanta a cadeira do rei.

🌻 Que sua realeza, tão sútil e tão marcante, seja sempre lugar onde eu possa estar.

Que nossa mãe Ndandalunda abençoe sempre seu trono. 💛

A comida é sagrada

Cozinhar, nos terreiros, constitui-se igualmente como um ato sagrado.
Os alimentos ofertados aos Minkisi e aos ancestrais, baseia-se no princípio básico de troca e circulação de energias. A comida envolve todo o processo de transformação do alimento, que lhe garante significados simbólicos e espirituais, para além do valor nutricional.
Os Minkisi comem a comida ofertada na medida em que retiram dela todo nguzu, energia vital, que é o seu alimento. A comida é uma das principais fontes de relacionamento com os ancestrais, uma vez que nos conectam com essa ancestralidade primordial.
Além disso, a comida reforça os elos entre a comunidade, possibilita momentos de convivência e partilha, criam relações de parentesco e amizade, garantem identidade e pertencimento.

É impossível pensar no culto ao ancestral sem a comida.

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As Senhoras das águas

No mês de fevereiro, louvamos nos Candomblés as forças sagradas das águas, reverenciando Ndandalunda e Kaya, realizações que regem os mistérios dos rios e das éguas, da fertilidade e do infinito.

Ndandalunda é a senhora das águas doces, guardiã dos rios, lagos, fontes e cachoeiras. Seu nome tem raízes no kikongo e no kimbundu, significando “mulher nobre mais velha”. Ela é uma grande serpente que desliza sobre a terra, levando vida por onde passa, irrigando o solo, nutrindo os corpos e fortalecendo os espíritos. Nas águas sagradas de Mam’etu Ndanda, relacionadas ao segredo da fecundidade, da maternidade e do princípio gerador que sustenta a existência.

Mam’etu Kaya, também chamada Kayala ou Mikaya, reina sobre as águas salgadas, sendo a soberana das éguas e oceanos. Conhecida como Samba Kalunga, “dama da corte do mar”, ela guarda os mistérios da imensidão e do abismo. Sua morada, a Kalunga, é o grande portal entre os mundos, onde os vivos e os ancestrais se encontram, onde os preces lançados ao vento são levadas às profundas do tempo. Kaya é a dona da travessia, a mãe do desconhecido, aquela que acolhe e transforma.

Ndandalunda e Kaya não são apenas senhoras das águas, mas forças que regem o equilíbrio da vida e da morte, do visível e do invisível.
Louvá-las é uma consideração de que somos feitos de água e memória, que carregamos em nós o fluxo dos rios e a vastidão dos oceanos.

Crédito imagem/foto: Freepik

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