O Candomblé é formado por diferentes nações e tradições, cada uma com raízes profundas em diferentes regiões e povos da África. Cada uma cultua suas próprias divindades: os Candomblés Nagô cultuam os Orixás, os Jejê os Voduns e os Kongo-Angola os Minkisi (plural de Nkisi). Segundo os ensinamentos de Tiganá Santana e Bunseki Fu-Kiau, Nkisi é remédio e feitiço, mas também os objetos materiais onde estão assentadas suas energias e mistérios. Essa palavra, utilizada em nosso Candomblé para nomear as divindades, tem raiz no verbo Kikongo (idioma dos Kongo) kinsa que significa “cuidar” (SANTANA, 2019, p.173).
Segundo o relato de Nsemi Ibaki, um habitante do Kongo, registrado pelos pesquisadores, John M.Jazen e Wyatt MacGaffey:
“Nkisi seria o nome da coisa utilizada para curar e obter saúde, sendo também um companheiro escolhido, para manter e preservar a vida da pessoa (…) O Nkisi tem vida, mas ela é diferente da vida das pessoas. Dessa forma, sua “carne” (Koma Nkisi) pode ser danificada, mas mesmo assim o Nkisi não terá sua vida extinta”.
Assim, podemos entender que um Nkisi é composto por uma “alma”, chamada de Mooyo, de um espírito protetor, um companheiro que cura e preserva nossas vidas. E um recipiente em que ela é assentada ou enraizada chamado de Koma Nkisi. O processo de assentamento ocorre por meio de um ritual que envolve uma seleção de medicinas e elementos chamados de Bilongo. Segundo Robert Farris Thompson, os recipientes de um Nkisi podem ser vários: folhas, conchas, trouxas, vasos de cerâmica, imagens de madeira, estatuetas e outros objetos (THOMPSON, 1983, p.121-122).
Existem Minkisi que são o corpo para os chamados Bisimbi, os espíritos da natureza ou de um determinado território local. Outros servem de corpo para espíritos ancestrais, denominados Bakulu. Muitos dos Minkisi utilizados para cura são espíritos da água, que, em sua maioria podem causar o transe ou a incorporação, como chamamos na diáspora. No Candomblé Kongo-Angola são os iniciados “rodantes” aqueles que entram em transe (MACGAFFEY, 1991, p.1-7).
Um exemplo de Nkisi cultuado tanto no Kongo, quanto em nosso Candomblé, seria Nkita Nsumbu. Carregando o nome do importante clã Nsumbu, originário do Kongo. Esse Nkisi, na África, é uma seleção de diversas medicinas em uma trouxa coberta de ráfia. É amarrado no pescoço de uma pessoa, ao lado de dois sinos de madeira, chamados de Kunda, que ativam suas medicinas e espantam o negativo. No Brasil a ráfia utilizada para cobrir esse Nkisi é a palha da costa, vista em suas roupas quando presente no corpo de seu iniciado. Para os Kongo, Nkita Nsumbu representa o “mundo em miniatura”, para nós se trata de uma divindade que também representa o mundo, especialmente a terra em que pisamos, tiramos nosso alimento, nossos remédios e curas tradicionais. Nos dois lados do Atlântico, Nsumbu é responsável por punir aqueles de conduta imoral com doenças de pele, ao mesmo tempo que os justos e aqueles que o cultuam são protegidos de doenças (THOMPSON, 1983, p.121-123).
Kiuá a todos nossos Minkisi, nossos companheiros de vida, aqueles que nos protegem, nos acompanham, nos cuidam e, principalmente, nos curam! Pembelê Tat’etu Nsumbu, o médico dos pobres, que o senhor espante o negativo e nos guarde das doenças!
Nsumbu ê
Nsumbu nanguê
Nsumbu ê
Nsumbu nanguê
Nsumbu sambu kwenda
Ê Lemba dilê
Su mayoki Nkita nfita
Su mayoki sambu kwenda